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Especial Harry Potter

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Cilada.com

Mais uma série levada aos cinemas.

Transformers 3 - O Lado Oculto da Lua

Consegue ser melhor que o segundo?

Carros 2

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Voltando a programação normal, com três músicas.

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Uma continuação que melhora em diversos aspectos.

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 - Crítica


“Eu sempre quis usar este feitiço!”


Uma década. Esse foi o tempo desde o surgimento do primeiro filme de Harry Potter até o derradeiro final nesse oitavo longa. Dez anos, oito filmes e quatro diretores. Após acompanharmos toda a história do bruxo, nos deparamos com o seu último filme. O universo fantástico criado superou a tudo e a todos e se tornou um marco.

Começando exatamente onde o anterior termina, Voldemort encontrou algo que procurava e se encontra mais poderoso do que nunca. Hogwarts é comandada com braços de ferro por Snape, o que restou da Ordem da Fênix encontra-se frágil. E Harry, Rony e Hermione continuam em busca das Horcruxes que faltam, sem saber quais são e nem onde estão.

A trama não perde tempo algum em explicar o que aconteceu antes, o que são as Horcruxes, nem nada. O longa é claramente para os fãs dos livros e para quem assistiu a todos os filmes. Uma pessoa que saltar de paraquedas nessa conclusão irá se sentir muito confusa, com toda a razão. É necessário, não um grande, mas um bom background para poder entender o que se passa em tela.


O clima do filme é tenso desde o começo, quando, antes mesmo de qualquer logo ou aviso, nos deparamos com um Voldemort encontrando algo que procurava. Esse pequeno começo já nos lembra de que nada ali é calmo e nenhum momento será seguro. Voldemort surge e a tensão e sensação de urgência e perigo junto com ele. A fotografia do filme é bem escura e sombria, algo que ressalta ainda mais o ambiente que o mundo mágico se encontra e aumenta ainda mais a sensação de perigo. Tanto é, que nem mesmo Hogwarts, algo tão mágico e aconchegante nos primeiros filmes, se mostra algo muito mais aterrorizador, com Snape como um líder condizente de uma época negra, comandando o colégio de uma forma quase que fascista.

Se a primeira parte não tinha nenhuma ação, sendo quase que um filme introspectivo, a segunda parte vai por um caminho totalmente oposto. A ação predomina a trama, do início ao fim. Tal fato de ter um caminho mais reto e direto favorece as cenas de ação, não há tempo para descansar. Uma cena de fuga é seguida por outra de duelo, que é seguida por outra fuga que é seguida por outra cena de ação. Isso apenas reforça a guerra que está acontecendo. E na guerra, não há tempo para descansar.

Se por um lado essa ação contínua é boa, por outro lado enfraquece a trama. Ao optar por algo direto, diversas mortes e momentos que mereciam uma maior atenção são ignoradas. Não que sejam deixadas de lado, mas é tudo tão atribulado que o que merecia um destaque maior para causar um impacto ainda maior (como no caso da Belatriz), é apenas jogada em tela e esquecida logo depois para a continuidade da aventura. Tal opção do diretor não estraga nem torna menor a experiência, mas deveria ter tido um maior apreço pelos momentos que pediam por uma carga dramática maior do que mostrada.


A trilha sonora foi composta por Alexandre Desplat e é soberba. Normalmente, nesse tipo de filme, um grande épico com uma guerra grandiosa, seria previsível ouvir algo que demonstrasse tal fator épico. Desplat vai justamente contra a maré nesse ponto. A trilha dele é em sua maior parte triste e melancólica, que demonstra que aquela guerra não é motivo de prazer, mas sim de tristeza pela destruição e morte que ela trás. Tão bem feitas, tais trilhas engrandecem ainda mais o tom de despedida, sendo comovente no ponto certo e que complementa as reações dos personagens e de quem assiste.

Todo o elenco se encontra em perfeita harmonia. As breves aparições de Gary Oldman, Jim Broadbent, Emma Thompson e outros são bem construídas e que serão lembradas. Eles surgem por algum motivo, não estão no filme apenas para fazerem uma ponta. Até mesmo Michael Gambon aparece numa cena memorável no livro e agora, no filme. Alan Rickman se mostra, ainda assim, um dos melhores em cena. Snape e sua dualidade ganham contornos ainda maiores quando se revela sua verdadeira história e a tristeza que transparece a tela ao perder alguém querido. Daniel Radcliffe continua sendo o mesmo Harry, mas isso não compromete sua atuação. Emma Watson se mostra mais amadurecida e contida em cena, ao passo de que Rupert Grint entrega um Rony amadurecido e decidido.

Por ser o final de uma série que, para quem assistiu desde o começo, se mostra algo muito mais dramático do que realmente parece. É um filme repleto de aventura, mas os momentos em que aparece algo mais sério tocam tão profundamente os fãs que acompanharam que resistir às lágrimas se mostra uma tarefa trabalhosa. O epílogo então é de cortar corações. É uma despedida alegre, mas ao mesmo tempo triste para aqueles que embarcaram junto nessa magia. E vejam só a coragem do diretor em terminar focando os personagens e não em fazer um plano aéreo passando pelos locais que marcaram na última década.


Após dez anos, oito filmes e quatro diretores, uma das maiores sagas do cinema se encerra. De um mundo alegre e aconchegante até um local que se torna hostil, sem cores e extremamente cruel, os filmes evoluíram e amadureceram. As Relíquias da Morte – Parte 2 completa um ciclo que durou uma década e envolveu milhões de pessoas. Entre acertos e erros, o último filme encerra com chave de ouro um mundo do qual muitos sentirão saudades. E eu me incluo nesse grupo.

Em tempo: ignore as cópias em 3D. Convertidas do 2D, em nada acrescentam a trama e podem muito bem ser descartada.


“Until the end.”


Harry Potter and the Deatlhy Hallows: Part 2, Aventura, Fantasia, EUA/Reino Unido 2011. Direção: David Yates. Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Michael Gambon, Alan Rickman, Matthew Lewis, Evanna Lynch, Helena Bonham Carter, Bonnie Wright, Maggie Smith, Jim Broadbent, David Thewlis, Julie Walters, Mark Williams, James Phelps, Oliver Phelps, Natalia Tena, Emma Thompson, Jason Isaacs, Helen McCrory, Tom Felton, Warwick Davis, Domhnall Gleeson, Clémence Poésy, John Hurt, Geraldine Somerville, Adrian Rawlins, Robbie Coltrane, Gary Oldman, Chris Rankin, David Bradley, Kelly Macdonald, Ciarán Hinds, Hebe Beardsall, Devon Murray, Jassie Cave, Afshan Azad, Anna Shaffer, Georgina Leonidas, Freddie Stroma, Alfie Enoch, Katie Leung, Scarlett Byrne, Miriam Margolyes, Gemma Jones.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Transformers 3 – O Lado Oculto da Lua - Crítica

“Agora a luta será de vocês.”


Quando se cai no chão, só há duas opções: ou tentar se levantar ou permanecer no chão. Michael Bay e seu Transformers 2 caíram de cara no chão. Caberia saber se a terceira parte tentaria se reerguer e apresentaria algo mais coerente ou se continuaria na mesma baboseira sem nexo. O resultado?  Algo meio a meio.

Na trama, os Autobots estão trabalhando para o governo, enquanto que Sam é deixado de lado, vivendo uma vida chata, em busca de emprego e sustentado pela nova namorada. Quando eventos provenientes da corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética são expostos, Autobots e Deceptions se mostram interessados no que tais informações podem trazer. Entre tais informações, se encontram segredos da antiga terra dos robôs, Cybertron.

É claramente visível um maior esforço em busca de algo concreto para criar uma narrativa coesa. Utilizar um fato histórico real é um bom artifício para criar uma nova história, mesmo que tal evento seja ignorado perto da metade do filme. O que, no começo, parecia criar uma boa atmosfera para um desenvolvimento ao longo de 157 minutos, é deixado de lado para outras duas tramas, bem simplórias, ganharem foco.


Mas tal esforço se mostra raso. Se aprofundar a visão, é possível ver que toda a coerência que existe só está ali para ligar uma cena de ação com a proveniente. Não há muitos diálogos com propósito durante o filme, tirando os que tentam explicar o porquê todo o caos está acontecendo. Ainda assim, eles não ajudam muito no desenvolvimento da história.

Filmado totalmente com câmeras 3D, a técnica se mostra muito competente. Usada com inteligência para criar uma profundidade de campo bem ampla, onde tudo se mostra grandioso, desde cenários (como um traveling que tem no terceiro ato para demonstrar a amplitude da destruição do local), como também para mostrar a diferença de tamanhão entre os pequenos humanos e os grandes robôs.

Mas, além disso, o 3D se mostra eficiente num outro quesito: segurar Michael Bay. Acostumado a cortes frenéticos a cada segundo para mostrar ângulos diferentes de uma mesma explosão sem necessidade, a nova tecnologia freia essa necessidade do diretor. Caso tal costume fosse utilizado, muitas pessoas passariam mal, além de continuarem sem entender o que está acontecendo em tela. E como tal tecnologia exige cenas mais longas, o diretor aproveitou-se de slow motions e travelings. E não há como se negar que tais escolhas se mostraram muito mais competentes, uma vez que, principalmente nas cenas de ação e luta metálica, é possível entender o que está acontecendo em tela.


A computação gráfica, que ficou à cargo de ILM (Industrial Light and Magic) se mostra incrivelmente bem feita. Visualmente, o filme é deslumbrante. Os Autobots e Deceptions estão cada vez mais críveis, cheios de detalhes durante a transformações de carros para máquinas, explosões que enchem os olhos. Nesse quesito, o filme é perfeito.

Shia LaBeouf continua sendo o personagem principal, o que conduz a trama. O ator está bem no papel, condizente com o que foi nos anteriores. Rosie Huntington-Whiteley surge como a nova namorada e consegue ser mais convincente que Megan Fox.A química entre o casal se mostra mais afável, mais sensata. O elenco secundário é muito bem gabaritado, com figuras como Frances McDormand, John Turturro e John Malkovich (que se diverte no seu papel). Surge até Ken Jeong (Mr. Chou de Se Beber Não Case) fazendo o que ele faz de melhor: caretas.

A ação do filme é muito competente e empolgante. E Isso chega ao máximo no terceiro ato, com mais de quarenta minutos de brigas, explosões e correria. É tanta ação que chega a dar certo cansaço. Não estou falando que é ruim, pelo contrário. É muito bom, o problema é que é demais. Muita coisa poderia ter sido cortada.


Transformers 3 – O Lado Oculto da Lua é um filme de ação desenfreada, que joga gags e momentos engraçadinhos um em cima do outro. A tridimensionalidade é excelente e agrega ao que é visto em tela. A sensação de urgência e falta de esperança é visível, mas continua faltando algo para que o filme alcance um nível a mais. Talvez um melhor desenvolvimento na história.


“Love boy toy.”


Transformers – Dark of the Moon, Ação/Ficção Científica, EUA 2011. Direção: Michael Bay. Elenco: Shia LaBeouf, John Turturro, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, Rosie Huntington-Whiteley, Patrick Dempsey, Kevin Dunn, John Malkovich, Frances McDormand, Ken Jeong, Leonard Nimoy e Peter Cullen. 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Carros 2 - Crítica

“Focinho de canelone.”


Era inevitável. Mais dia, menos dia, a Pixar acabaria derrapando. Após mais de uma década produzindo verdadeiras obras primas e que priorizavam a originalidade, Carros 2 surge como uma continuação caça niqueis, visando apenas dinheiro e não trazendo nada de novo. E o pior, se tornando algo que a empresa sempre fugia: clichê.

Na história acompanhamos Relâmpago McQueen numa corrida ao redor do mundo para promover um novo combustível alternativo e limpo. Mate, seu melhor amigo, vai junto e sem querer, acaba entrando numa tramoia de espionagem americana, sendo confundido com um espião e tendo que participar de uma missão ao lado da novata Holley Caixa de Brita e o agente veterano Finn McMíssel para descobrir quem é o responsável por tentar acabar com o novo combustível.

Como é possível ver pela sinopse, a trama do filme se mostra uma das mais simplórias e clichês já feitos pela Pixar. Com o roteiro escrito por Ben Queen, a trama decide não fazer mais do mesmo, mas falha no caminho que decide tomar. O tema de espionagem surge em cena e segue todos os preceitos e caminhos já estabelecidos por esse gênero, sem trazer algo de inovador, tão presente nos filmes da empresa. Há o espião inteligente, a novata e o herói que cai de gaiato na confusão. Até mesmo o vilão da história se torna previsível e ainda assim, é descoberto envolto de muitos furos.


Mate foi alçado ao posto de protagonista. McQueen cai para um personagem secundário que aparece em parcas cenas em prol do maior tempo em tela de Mate. Antes um personagem secundário que, ao mesmo tempo em que trazia algo um pouco dramático também tinha nele os momentos engraçados, aqui o fato dele de tornar o principal obriga que a cada minuto em que ele esteja em tela, seja dita alguma piada ou que ele faça algo atrapalhado em tela. E isso diminui a força dele como personagem principal.

Esse se torna o principal problema desse novo filme da Pixar: a falta de comprometimento por trazer algo novo e se ancorar em formulas pré-estabelecidas e não dar uma maior profundidade a trama. Carros 2 é um filme que tenta a todo custo tirar alguma risada do espectador, que traz um conflito forçado entre os amigos e que chega ao ápice de soltar frases artificiais do tipo de “aceitar como ele é”. Algo que a Pixar nunca precisou utilizar para criar ótimas histórias e personagens cativantes.


A animação, por outro lado, é impecável. Todas as texturas, as cores brilhantes e metálicas criam um universo mecânico crível e muito bonito. Cada carro é feito com um esmero ímpar para mostrar que cada um é único. E a animação não fica somente nesse campo, ela também ambienta muito bem cada país, como o oriente, os carros japoneses remetem aos animês, com cores fortes e cenários amplos e muito coloridos.

A ação do filme se mostra muito competente. Sendo jogadas para segundo plano, as corridas são rápidas como deveriam ser, mas perdem o foco para as partes de ação de espionagem. Chega a surpreender tamanha violência presente nesse filme, com direito a carros sendo explodidos, tiros de armas e misseis explodindo a torto e direito. Mas nada que comprometa essas cenas.

A hora havia de chegar. E ela chegou com Carros 2. Preguiçoso, previsível e formulaico, é um filme competente nos quesitos de  animação e ação, mas peca por faltar aquele elemento Pixar presente nos outros.


“Inteligência mecânica.”


Cars 2, animação/infantil, EUA 2011. Direção: Brad Lewis. Vozes originais de: Owen Wilson, Larry the Cable Guy, Emily Mortmer, Jason Issacs, Thomas Kretschmann, Michael Caine, John Turturro, Joe Mantegna, Eddie Izzard, Bruce Campbell, Vanessa Redgrave, Franco Nero.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Primeira Noite de um Homem - Crítica

“Sra. Robinson, você está tentando me seduzir. Não está?”


Comédias românticas costumam vagar num ostracismo de falta de criatividade. Sempre envoltas de formulas batidas e clichês, esse gênero acabou ficando em segundo plano e, em muitas vezes, voltados para algo bobo. A Primeira Noite de um Homem é uma das melhores e mais famosas desse gênero justamente por não se tornar algo banal e acertar nos momentos certos. Não deixa o romance de lado pelo prol de algumas risadas, mas não a ignora também.

Benjamin é um adolescente que acaba de se formar na faculdade. Filho de pais de classe alta, o garoto sofre por não saber o que fazer com o seu futuro. Nesse contexto, ele é seduzido pela mulher do melhor amigo de seu pai, a Sra. Robinson, vários anos mais velha que ele. Caindo nos encantos da mulher, Ben muda seu comportamento e seus pais começam a ficar preocupados. Então eles decidem marcar um encontro para ela com Elaine, a filha da Sra. Robinson.


Como é possível ver pela breve sinopse, o roteiro do filme não foge muito das batidas histórias de romance. Um dos diferenciais é que o roteiro não aborda somente o amor rodeado de situações engraçadinhas. Há uma preocupação em desenvolver o personagem de Ben, suas preocupações de um recém formado sem rumo na vida, com um milhão de pensamentos martelando na sua cabeça e, por conta disso, seu envolvimento com uma mulher casada. Há também uma boa exploração dos relacionamentos entre o jovem e a Sra. Robinson e, logo depois, com a filha da mesma.

Mas o melhor do filme fica por conta de Mike Nichols, o diretor responsável pelo filme. Se utilizando de zooms e ângulos diferentes, o diretor cria um filme com diversas nuances e significados para cada cena, a fim de ressaltar alguns elementos da trama. A cena inicial é uma clara alusão a isso. Ben na esteira do aeroporto, cabisbaixo, impassível sem fazer nada nem expressar nada. E a cena se prolonga por alguns minutos, em que nada acontece. Mas essa cena tem uma bela mensagem por trás, só desvendada mais a frente no filme. Ao som de “The Sound of Silence”, a falta de expressividade de Ben ganha um novo significado, de que o personagem não sabe o que fazer da vida, de sua vida medíocre, recheada de presentes e festinhas que nada agregam a sua vida e pais que pouco ligam para o que pensa e querem apenas exibir o seu “troféu”.

Não sendo a única cena poética do filme, o diretor cria outras cenas muito interessantes, como a festa e os planos fechados para retratar o desconforto e a falta de espaço que o personagem principal tem, além da famosa cena do mergulho na piscina, com o a visão fechada e claustrofóbica de Ben, para retratar o seu isolamento de todos que o cercam. É algo de extrema sutileza que a grande maioria dos espectadores não entendem conscientemente, mas que sentem no amago do ser.


O elenco do filme está afiado e todos têm seus momentos em cena. Dustin Hoffman transparece um jovem cheio de dúvidas na cabeça e ingenuidade, em contraste com Anne Bancroft interpretando uma senhora Robinson sedutora e mais experiente. E no meio dos dois está uma jovem e bela Katherine Ross.

Com uma trilha sonora marcante, uma edição ágil e que ajuda no desenvolvimento do filme, A Primeira Noite de um Homem se torna uma das mais famosas e, porque não, uma das melhores comédias românticas de todos os tempos. Uma história batida, mas com diversas camadas ao  longo dos 140 minutos, atuações boas e uma trilha sonora marcante, é um filme muito acima da média para o gênero e que continua atual mesmo após cinco décadas.


“I love your daughter.”


The Graduate, Comédia Romântica, EUA 1967. Direção: Mike Nichols. Elenco: Dustin Hoffman, Katherine Ross, Anne Bancroft e William Daniels.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Meia-Noite em Paris - Crítica

“Nostalgia é negação.”


Começar a analisar um filme de Woody Allen é algo trabalhoso. Todo filme do diretor segue um estilo único, com diversas informações e aquele humor sutil, não para agradar a milhões, mas sim para pegar os mais atentos. Meia-Noite em Paris não foge a regra.

Gil (Owen Wilson) é um roteirista de Hollywood que resolveu passar um tempo em Paris com sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e a família dela. Tentando fugir um pouco dos roteiros tão burocráticos dos Estados Unidos, Gil tenta escrever um romance, algo novo. E as suas andadas por Paris depois do sol se pôr começam a contribuir para isso. De uma maneira um tanto quanto mágica.

Allen entrega uma comédia numa Paris que é idealizada e amada pelo personagem de Wilson. E até mesmo pelo diretor. O início do filme é tomado por imagens e cenas da Paris numa manhã, caminhando pelo meio dia, chegando numa tarde chuvosa e terminando numa Paris de noite, com a Torre Eiffel no canto da tela. E o amor pela cidade-luz continua ao longo de todo o filme, sempre com os planos com cores claras, quase douradas, mostrando o quanto aquela cidade ostenta algo magnifico e aconchegante. Tanto é que isso acaba transparecendo pelo gosto de Gil pelo lugar.


Woody Allen se utiliza de um artifício de câmera para demonstrar como anda o noivado dos personagens de Owen Wilson e Rachel McAdams. Sempre à esquerda em tela, Gil sempre perde para a noiva, ele nunca tem força para conseguir debater com ela. E ao longo do filme, a situação se inverte, com o personagem ficando à direita, ganhando atenção.

O grande destaque da trama fica, justamente, quando ela ocorre depois da meia-noite. Quando Gil é pego por um carro e inexplicavelmente chega num local, a trama começa a ganhar contornos e uma graça rebuscada. As situações inusitadas e os diálogos sutis, ainda assim engraçados, com os personagens que surgem depois das doze badaladas ganham o destaque e porque não, o filme. Prefiro não comentar aqui quem são e o porquê da graça para não estragar a surpresa. Mas todas as situações não são explicadas e cabe ao espectador já ter bagagem cultural para entender quem eles são. Há menções e o surgimento de diversos personagens, e não conhecer nenhum ou só alguns pode tornar o filme um pouco confuso e um pouco entediante.


Owen Wilson não atrapalha e consegue entregar um de seus melhores personagens. Acostumado com papeis pastelões, o ator consegue interpretar um Gil deslocado com o novo, mas alguns de seus trejeitos persistem em tela, principalmente em momentos com sua cara de abobalhado. Marion Cotillard é uma personagem digna de uma Paris dos anos 20, com toda sua beleza e inocência em tela. O resto do elenco, coadjuvante aos dois, não são deixados de lado. Não há um desenvolvimento de nenhum (com uma rápida exceção de Paul, um amigo de Inez, um pseudointelectual, que é ligeiramente apresentado), mas ainda assim o interesse por eles se mostra grande quando os personagens já são interessantes.

Com uma trilha sonora bem conduzida, Meia-Noite em Paris se mostra uma agradável surpresa. Uma comédia leve e descompromissada, com uma história com toques de ficção científica e um romance crível e apaixonante. E uma mensagem que fica ecoando ao final do filme: o eterno descontentamento das gerações com suas épocas. Sempre o glamour e a história do passado se mostram mais interessantes.


“Gil Pender of Pasadena.”


Midnight in Paris, Comédia, EUA/Espanha 2011. Direção: Woody Allen. Elenco: Owen Wilson, Marion Cottilard, Rachel McAdams, Carla Bruni-Sarkozy, Michael Sheen, Nina Arianda, Tom Hiddleston, Alison Pill, Kurt Fuller, Kathy Bates, Corey Stoll, Sonnua Rolland, Adrien Brody, Tom Cordier, Adrien de Van, Oliver Rabourdin, Léa Seydoux, Victor Menjou. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Qualquer Gato Vira-Lata - Crítica

“É o guru ó...”


Vindo de uma peça teatral chamada “Qualquer Gato Vira-Lata tem Vida Sexual mais Sadia que a Nossa”, o filme tenta pegar a formula do sucesso da trama de Juca de Oliveira e transportá-la para as telonas do cinema. Mas será que tal adaptação funciona bem em outra mídia?

Tati é uma mulher que é apaixonada pelo namorado Marcelo. Mas ele só se interessa pela atenção que ganha de todas as garotas que não resistem ao seu charme. E sabendo como a mulher é apaixonada e que faz qualquer coisa por ele, ele abusa. A situação só muda quando, no aniversário dele, ela toma um fora. Chorando e desolada, ela entra numa aula do professor de biologia Conrado, que está falando sobre o fato das mulheres deixarem de serem românticas. No primeiro momento, Tati discorda do professor, mas depois se oferece para ser a cobaia da tese dele. Então ela passa a ser treinada por Conrado para se tornar uma mulher mais valorizada e, ao mesmo tempo, despertar o ciúme no antigo namorado.


O roteiro do filme adaptado por Júlia Spadaccini e Claudia Levay tinha potencial para algo mais profundo e interessante sobre a tese de Conrado e a relação homem/mulher. O problema é que a trama acaba metendo os pés pelas mãos e se torna algo extremamente raso e com um final profundamente previsível. Desde o começo o final já é imaginado, mas nem a forma como ele vai acontecendo é interessante.

Os personagens ainda por cima não contribuem. Rasos e extremamente estereotipados, há desde o galã bon vivant interpretado por um fraco Dudu Azevedo, uma Cléo Pires como uma histérica e sem um bom timing para a comédia e um Malvino Salvador como um professor muito mecânico, quase um robô. O único que parece estar à vontade é Álamo Facó como o amigo Magrão.

A comédia, na maioria das cenas, é algo pastelão e caricata, chegando à vergonha alheia. E na insistência de uma mesma piada diversas vezes. Dá pra dar risada? Dá, mas normalmente será aquela com o cantinho da boca que logo será esquecida.


Os únicos pontos interessantes do filme são duas cenas bem parecidas. Uma do começo e outra no meio em que o plano é dividido e é possível ver planos detalhes (na primeira) que mostram como a personalidade da protagonista é volátil e descontrolada. E a segunda mostra uma conversa de telefone que o espaço de cada personagem vai aumentando ou diminuindo conforme ganha ou perde força na conversa.

Qualquer Gato-Vira Lata é uma daquelas tradicionais comédias românticas. Não trás nada de novo, é previsível do começo ao fim, mas irá agradar ao público menos exigente. Quem está em busca de algo além de gracinha, vai achar o filme bobo e sem graça. E com a validade já datada.


“É Charles Darwin!”


Qualquer Gato Vira-Lata, Comédia/Romance, Brasil 2011. Direção: Tomas Portella. Elenco: Cléo Pires, Dudu Azevedi, Malvino Salvador, Álamo Facó, Rita Guedes.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Kung Fu Panda 2 - Crítica

“Eu tô com a macaca!”


Depois do sucesso de Kung Fu Panda, de 2008, já era esperada uma continuação. E ela veio. Normalmente tudo costuma ser maior na continuação, mas vejam só: Po emagreceu um pouquinho.

Lorde Shen era um príncipe pavão que queria se tornar rei. Mas ao ouvir a profecia de que seria derrotado por um animal preto e branco, ele ordena a morte de todos os pandas do reino. Seus pais, desapontados com o filho, o banem do reino. Ele vai, mas jura vingança. E ela vem, quando ele cria uma arma de fogo que dispara fogos de artificio. Agora que a China e o kung fu estão em perigo, Po e os Cinco Furiosos terão que impedir Shen.


A trama da história se mostra bem construída e amarrada. Não chega a ser original e brilhantemente trabalhada, mas se mostra competente. O foco é Po, especificamente a origem do panda. É um filme que intercala o presente e o passado de forma bem feita, onde acompanhamos os planos de Sheen e a turma de Po no presente e, através de flashbacks o passado de tudo aquilo.

E esses flashbacks vem em forma de animação tradicional 2D, mas ela é bem estilizada e com a estética asiática dos grandes olhos dos animes. Esses flashbacks contrastam com o presente justamente por conta dessa mudança entre o 3D e o 2D. Esse se mostra um recurso para informar o espectador o que é passado e o que é presente.

A animação 3D também é riquíssima: cheia de detalhes e cores vivas e fortes. Em três anos a tecnologia avançou e isso é visível nos gráficos da animação. Mesmo que os personagens se mantenham iguais ao primeiro olhar, olhando mais detalhadamente é possível observar que minucias foram mais refinadas, como os olhos que expressam ainda mais os sentimentos deles e os pelos agora tem uma textura a mais, para deixar tudo ainda mais bonito. Até a água, o pesadelo de qualquer animador, se mostra muito bem trabalhada e realista, ainda mais quando ela é um elemento fundamental na trama.


O humor continua bem presente. E ao longo de todo o filme qualquer situação (um simples movimento de câmera) pode gerar uma risada. Po batalhando com seu jeito desengonçado e diversas falas dele são bem cômicas. A ação também existe e está bem encaixada com o filme: a cena inicial com a primeira luta do filme é muito bem coreografada e faz uma junção interessante da música com a briga, onde cada soco, cada golpe gera uma nota que vai construindo a música.

Mas não é só de humor que vive a história. Como dito acima, a história é sobre a origem de Po, sobre sua busca pelo seu passado. E esse passado não é tão belo assim. O drama se faz presente nessa parte, com o panda descobrindo seu passado e vendo como sua família e seus iguais sofreram pelas mãos do Lorde Sheen. E junto com essas descobertas, o herói precisa aprender a encontrar sua paz interior.


Como o vilão tendo a cor branca como predominante, a animação abusa do vermelho em sua volta para mostrar que aquele pavão branco realmente é o vilão do filme. Inclusive seus olhos demostram isso. E em contrapartida Po sempre está envolto de alguma cor clara, para contrastar com o vilão e mostrar quem é o mocinho da parada. A câmera também se mostra bem utilizada em algumas situações, como no caso em que ela sobe e o plano aero remete aquele joguinho da cobrinha (de comer pixels) e num outro caso em que é utilizado o raccord para fazer a transição entre a gota d´água e seus movimentos com as lembranças de Po.

Kung Fu Panda é uma animação muito bem construída. Tem humor, tem ação e tem história. E com os três elementos muito bem balanceados. Com um visual de encher os  olhos, Po e os Cinco Furiosos voltam numa continuação que vai além de um simples caça-níquel. É um filme de qualidade.


“Pode ser o fim do kung fu.”


Kung Fu Panda 2, Animação/Comédia/Ação, EUA 2011. Direção: Jennifer Yuh. Elenco: Jack Black, Dustin Hoffman, Gary Oldman, Michelle Yeoh, Danny McBride, Lucy Liu, David Cross, Seth Rogen, Angelina Jolie, Jackie Chan, Jean-Claude Van Damme.

Namorados para Sempre - Crítica

“Não somos mais bons juntos.”


Blue Valentine chega ao Brasil como Namorados para Sempre. E ainda mais na semana do Dia dos Namorados. Com um titulo bem equivocado, o filme não se trata sobre um casal feliz para sempre, mas sim sobre um fim conturbado de um relacionamento degastado.

Cindy e Dean estão casados há quase seis anos. Essa também é a idade de Frankie, a filha deles. O problema é que o relacionamento é que o relacionamento para Cindy está desgastado, acabado. Ela não consegue mais sentir algo por Dean, o qual ainda se encontra apaixonado pela esposa e tentando fazer com que eles se reaproximem. Numa dessas tentativas, ele a leva para um motel para que eles se aproximem de novo. E enquanto isso vai acontecendo, o expectador vai acompanhando o outro lado da moeda, quando eles se conheceram, como se apaixonaram.


O roteiro do filme chega a ser desconfortável de tão real que é. Não espere uma história de amor glamorosa, digna de filmes que você não vai encontrar. Aqui você receberá a crua e na maioria das vezes, realidade que circunda. Terão brigas, discussões, sexo, mais discussões, clínica de aborto. É um filme pesado.

A trama toda se baseia simplesmente no casal de protagonistas, interpretados por Michelle Wiliams e Ryan Gosling. Ambos estão sensacionais, nos dois momentos de cada. Michelle como uma jovem Cindy e o oposto dela, uma fria e sem vontade de nada. Ryan, por sua vez, como um jovem alegre e feliz para um Dean mais velho, menos feliz, mas ainda assim, que ama tanto sua esposa quanto antes. Ambos estão fantásticos.

Mesmo que seja um filme que te deixe desconfortável e triste com o final, é um filme que levanta certos pensamentos, como a busca da pessoa ideal, do que realmente vale a pena num relacionamento, se deve considerar manter um relacionamento quando a maioria dos sentimentos se extinguiu. É o retrato mais atual e realista de um relacionamento que está para se ruir.


Em certo momento do filme, Dean levanta uma teoria que, se pararmos para pensar, ela talvez se torne bem real. Homens são mais românticos que mulheres. Ele argumenta que mulheres vivem esperando o homem perfeito, o príncipe encantado, mas quando encontram um cara bacana com um bom emprego, elas casam. Enquanto que os homens passam a vida toda esperando pela garota que faz com que pensem “se não me casar com ela, sou idiota.” Esse argumento, dito como se fosse algo casual, começa a ganhar força e ficar mais plausível durante o filme, quando Cindy fica descontente que Dean tenha desistido de almejar algo melhor para sua vida, que ele está acomodado (sem um bom emprego), enquanto que ele está feliz só pelo fato de estar com ela.

O único problema do filme é que ele se torna lento e arrastado em certos momentos. Ele já é um filme longo, com quase duas horas. Mas o problema é que essa lentidão dele faz com que ele pareça que dure muito mais. Mas isso deixa de ser um problema quando começa a mostrar que o relacionamento se tornou aquilo: algo lento e arrastado. Um relacionamento que parece não ter fim.


A câmera também é usada para demonstrar como a situação do casal anda conturbada. No começo do relacionamento, com planos mais abertos e com filtros claros e quentes, mostra como o relacionamento novo deles é algo prazeroso, algo aconchegante. Quando o amor acaba e a situação fica desgastada, ganha destaque os planos mais fechados, os closes e os filtros mais escuros e frios. Essa mudança de plano causa um sufocamento no espectador, para deixar o ambiente insuportável, assim como a vida e o relacionamento deles: algo sem espaço para algo novo e que é sufocante.

Namorados para Sempre é um drama pessimista e depressivo. Não que seja ruim, longe disso. O filme é cru e realista, mas foge da proposta de ser sobre aceitação sobre um fim de relacionamento para dar lugar ao medo de tentar. É real? É. Mas é bem depressivo.


“Can you dance?”


Blue Valentine, Drama, EUA 2011. Direção: Derek Cianfrance. Elenco: Michelle Williams, Ryan Gosling, Marshall Johnson, John Doman, Mike Vogel, Jen Jones, Ben Shenkman, Faith Wladyka.

sábado, 4 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe - Crítica

“Mutante com orgulho.”


Após a ótima trilogia inicial (o terceiro é bom, mesmo com alguns vacilos) e um péssimo e vergonhoso Wolverine: Origens, é notável que a crença em torno dessa pré-continuação não fosse uma das melhores. Muita gente não apostava nesse novo filme, nesse prequel mostrando eventos anteriores à trilogia. Mas aí que reside a força do filme.

A trama começa na década de 40, com um jovem Erik Lehnsherr (o Magneto) no campo de concentração nazista, quando ele é pego por Sebastian Shaw (Kevin Bacon) por conta de seus poderes. Anos depois, já na década de 60, Erik é um homem rancoroso que só tem como objetivo perseguir Shaw e matá-lo. Nesse contexto, ele acaba encontrando outro mutante: Charles Xavier (James McAvoy). Juntos, eles são recrutados por uma agente da CIA para tentar impedir Shaw, que tem planos de iniciar uma crise entre os Estados Unidos e a União Soviética.


O roteiro, escrito por Zack Stentz e Ashley Miller, se utiliza de um pano de fundo real para moldar uma história cativante, com mutantes, mas ainda assim real. Desde o primeiro instante, é crível que possam existir seres com poderes sobre humanos convivendo num mundo real. Além disso, o filme, mesmo tendo cenas de ação (que falarei logo abaixo), se foca mais nos personagens, na construção desses. É isso gera um envolvimento ímpar por parte do espectador: cada personagem é bem construído e faz com que você se importe com ele (não todos, diga-se de passagem).

A principal voga do filme fica por conta da aceitação e do preconceito, temas tão presentes, não só na trilogia, como também nos próprios quadrinhos dos X-Men. Sempre há um diálogo, paira no ar que eles são uma pária, são seres excluídos de uma sociedade preconceituosa. E esse tema fica escancarado na personagem da Mística (Jennifer Lawrence). A própria mulher, sabendo como é a sociedade, se esconde numa aparência dita como aceitável, ao invés de se mostrar na real forma. Ela é alguém que não é por preconceito de todos, e de certa forma, dela mesma.


O personagem Xavier é interpretado por James McAvoy como um jovem com prazer pela vida, alegre, divertido e que faz gracejos para mulheres. Essa total diferença para o futuro sério e compenetrado Professor X gera, a uma primeira vista, uma graça ao personagem. Graça que, ao longo da trama, se torna carisma pelo personagem, muito bem interpretado por McAvoy.

Do outro lado da moeda, encontra-se Erik. Michael Fassbender tinha em suas mãos a árdua tarefa de viver um personagem complexo e querido pelos fãs, anteriormente interpretado magnificamente por Sir Ian McKellen. E ele não faz feio, muito pelo contrário. O ator entrega um jovem Magneto obcecado pelo ódio, mas em momento algum você o transforma em vilão. Suas atitudes podem parecer más, mas como condená-las quando você entende o motivo de tamanha raiva? A complexidade do personagem é imensa. Tendo vivido na pele o preconceito do Holocausto, essas experiências moldam o caráter do personagem de uma maneira que o faz se tornar cada vez mais frio com a humanidade.


E esse contraponto entre os personagens de Erik e Xavier enriquece ainda mais a trama. Você entende o lado de cada um, entende os argumentos que eles apresentam. Mas não consegue tomar partido de nenhum dos lados. A amizade dos dois é construída de uma forma tão boa, que eventos posteriores dos outros filmes se tornam mais brilhantes ainda devido a essa amizade anterior. Até a personalidade deles sempre entram em atrito devido ao que ambos passaram pela vida: a alegria e paixão do rosto de Xavier sempre contrastam com a fúria e amargura da face de Erik.

Mesmo com dois personagens tão bem desenvolvidos, cada qual com seu lado, o filme precisa de um vilão. E aqui coube a Kevin Bacon entregar um Sebastian Shaw, um vilão excêntrico e cheio de personalidade. Pelos olhares, pelas faces do personagem, você sabe o quão perigoso ele é e quão ardiloso ele pode ser. Sensacional atuação de Bacon.


Responsável por Kick-Ass e Stardust, o diretor Matthew Vaughn dirige com maestria esse prequel. Ele utiliza planos que contrastam (a cena inicial de Erik com Shaw, que ao começo parece normal, se torna mais crítica do que parece por uma simples troca de visão), planos curiosos (Erik e o banqueiro), planos que remetem diretamente ao formato dos quadrinhos (a divisão da tela durante os treinamentos) e um movimento de câmera com uma moeda que demonstra, além do sofrimento, a clara ruptura de qualquer laço entre dois personagens, que cada um seguirá um caminho.

A ação do filme é dosada. Não há aquela urgência de ter em tela personagens super poderosos trocando socos e esferas de energia. Mas quando essas cenas aparecem, elas são extremamente competentes e empolgantes, como o caso do terceiro ato, com a crise e tensão em cena. Mas ainda nesses momentos, os diálogos se tornam mais prazerosos que a ação.


Ainda há tempo para um humor descontraído e sem parecer forçado, que fica à cargo dos mutantes novatos, sempre com alguma piada na ponta da língua. Todos os novatos têm seu tempo em tela, tem seu desenvolvimento, tirando alguns (e um que não precisa estar lá).

X-Men: Primeira Classe é um grande filme de super-heróis. Deixa o universo mutante mais rico e vasto, tem ação no momento certo, humor sem excesso e uma trilha sonora que completa o filme. Com o foco claro nos personagens, o filme resgata com maestria conceitos do próprio quadrinho e entrega um produto acima do esperado.


“Peace was never na option.”


X-Men: First Class, Ação/Aventura, EUA 2011. Direção: Matthew Vaughn. Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, Jennifer Lawrence, Beth Goddard, Morgan Lily, Oliver Platt, Álex González, Jason Flemyng, Zoë Kravitz, January Jones, Nicholas Hoult, Caleb Landry Jones, Edi Gathegi, Corey Johnson, Lucas Till, Laurence Belcher, Bill Milner.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Poder e a Lei - Crítica

"Quer ver um filme?”


O glamour e a graça de Los Angeles ficam para trás. O Poder e a Lei deixa isso de lado para mostrar um drama policial elegante, cru e com um bom roteiro que não tenta extrapolar a inteligência do espectador.

Matthew McCounaughey é Mick Haller, um advogado que tem uma ética questionável entre seus colegas de profissão. Ganhando a vida defendendo qualquer criminoso que surge, ele ganha a sorte grande quando um caso envolvendo um playboy cai em suas mãos. Porém, nada é o que parece quando o caso se mostra muito mais intrigante e perigoso do que parece.


Antes de ser um filme policial, é um filme focado no personagem principal. Ao longo da história, acompanhamos um Mick de caráter duvidoso sendo cada vez mais envolvido numa trama que o engole, e o espectador vai percebendo como o personagem fica acabado, as crescentes olheiras em seus olhos, o cabelo desarrumado. Matthew McCounaughey, o eterno garotão, consegue entregar uma de suas melhores atuações. Tendo como contraponto um garoto, o ator consegue transparecer profissionalismo num personagem que exige tal coisa dele.

Além de Matthew, o conjunto de personagens secundários apenas faz crescer o nível da trama. Marisa Tomei, como uma defensora pública que tem uma filha com o personagem principal, contribui nas cenas em que aparece junto com Matthew. E é possível entender o porquê deles não terem dado certo apenas por um dialogo, sem parecer banal. William H. Macy está excelente como o investigador amigo de Mick, mesmo aparecendo pouco em cena. O único deslize, mas que no final não estraga a experiência, é Ryan Phillipe como o playboy. Sendo o contraponto de Matthew, o personagem não gera o esperado no espectador, sempre oscilando entre o marasmo.

O diretor se utiliza constantemente de planos fechados, sempre focando nos personagens. Esse recurso, utilizado à exaustão ao longo do filme por Brad Furman, está lá para passar sempre a mesma sensação:  de que a tensão sempre está presente, nunca tendo um espaço, uma brecha para respirar e aguardar o próximo passo. O suspense constante, sempre com conversas bem próximas, cochichos no ouvido, dá um tom cada vez mais tenso ao filme. E isso apenas contribuiu para uma melhor experiência. Além dos planos, Brad também se utiliza do zoom para ressaltar ainda mais a tensão.


Mas o ponto alto do filme deveria ser o tribunal, com o réu, os jurados e tudo mais que compõem o fato de querermos descobrir quem é o culpado. Mas aí que o foco muda, pois uma reviravolta antes do tribunal tira a tensão de descobrir o culpado e o foco passa a ser outro elemento. É competente, funciona muito bem, mas lembra de que o importante ali não é a ação do tribunal, mas sim o personagem principal.

Adaptado de um best seller homônimo, O Poder e a Lei têm uma trilha sonora que remete aos anos 70 e uma montagem que deixa a história mais ágil e instigante, sempre levando a trama mais e mais pra frente, deixando o cada vez melhor. Mesmo com alguns deslizes aqui e acolá, como o ator Ryan Phillipe e uma reviravolta um tanto quanto desnecessária próxima ao final.


“I try survived.”


The Lincoln Lawyer, policial, EUA 2011. Direção: Brad Furman. Elenco: Matthew McConaughey, Marisa Tomei, John Leguizamo, Ryan Phillippe, William H. Marcy, Josh Lucas, Shea Whigham, Margarita Levieva, Michael Peña, Frances Fisher, Bryan Cranston.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Se Beber, Não Case! Parte 2 - Crítica

“Não acredito que está acontecendo tudo de novo.”


Stu é o noivo da vez. Prestes a se casar, ele viaja com seus padrinhos Phil, Doug e Alan para a Tailândia, aonde irá se casar. Sabendo do que aconteceu anos atrás, Stu veta a despedida de solteiro. Mas isso não impede que, sem saber como, eles acordem novamente num quarto sem ter a menor ideia de como pararam ali.


Pronto, a base para a trama desenrolar está preparada. Assim como no primeiro filme. E é justamente aí que reside a maior fraqueza dessa continuação: ser praticamente igual ao seu antecessor. A estrutura de toda a jornada em busca das memórias perdidas seguem literalmente os mesmos passos do primeiro filme. O espectador quer mais do primeiro? Tudo bem, ele quer. Mas também queria que trouxesse aquela inovação que o primeiro também apresentou. As situações inesperadas, o nonsense em determinados diálogos. Ao pegar uma história já conhecida e estruturar toda a continuação em cima daquilo, sem acrescentar nada, o filme se torna repetitivo e o pior, previsível.


A fotografia de Bangcoc é toda levada em tons pastel, em tons amarelos, que a torna muito menos glamorosa e engraçada que uma Las Vegas e muito mais violenta e desconfortante. E isso é refletido em cenas com violência e sangue. As tomadas abertas da capital mostram uma cidade grandiosa e confusa, cheia de pessoas, mas nunca remete às confusões que se pode causar por causa de uma noite de bebedeira. Ela mais oprime os personagens do que os enaltece.


As piadas, os momentos engraçados do filme. Eles funcionam? Não vou negar, funcionam e fazem rir. Mas tirando um ou outro momento, tudo que é engraçado, novamente, só é engraçado porque remete ao primeiro filme. Durante os 15, 20 minutos iniciais todas as piadas ditas e que aparecem em tela só funcionam porque o espectador lembra-se do que aconteceu na aventura anterior e, por conta disso, provoca o riso. As situações engraçadas aqui vão surgindo em partes, como se uma não estivesse se conectando com a outra. A cena em que Stu descobre o que fez na noite anterior é digna de altos risos, mas novamente, está lá para provocar riso, não para dar continuidade na trama. E outro ponto negativo nesse filme: ele tem que recorrer mais de uma vez, a piadas envolvendo órgãos genitais, algo que se tornou corriqueiro e mais um artificio para provocar um riso fácil.


Tanto é que, em diversas cenas do filme, a piada só funciona por conta das atuações do trio principal. A situação em si não provoca o riso, mas sim a cara altamente caricata e exagerada do personagem. Ed Helms (Stu) e Zach Galifianakis (Alan) fazem isso ao longo da trama. Zach, aliás, está menos engraçado. Ainda é engraçado, suas cenas são engraçadas, mas em diversos momentos a risada surge por conta da pena sentida do que pela falta de tato do personagem.


Se Beber, Não Case! Parte 2 tem suas cenas que funcionam e causam risada. Porém se omite de tentar algo mais inovador e interessante e segue por algo mais seguro e fácil. Seguro ao ponto de torná-lo mediano.


“I have a demon inside of me.”


The Hangover Part II, Comédia, EUA 2011. Direção: Todd Philips. Elenco: Zach Galifianakis, Ed Helms, Bradley Cooper, Justin Bartha, Ken Jeong, Paul Giamatti, Jeffrey Tambor, Jamie Chung, Mason Lee, Yasmin Lee, Nick Cassavetes.

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