“Eu sempre quis usar este feitiço!”
Uma década. Esse foi o tempo desde o surgimento do primeiro
filme de Harry Potter até o derradeiro final nesse oitavo longa. Dez anos, oito
filmes e quatro diretores. Após acompanharmos toda a história do bruxo, nos
deparamos com o seu último filme. O universo fantástico criado superou a tudo e
a todos e se tornou um marco.
Começando exatamente onde o anterior termina, Voldemort
encontrou algo que procurava e se encontra mais poderoso do que nunca. Hogwarts
é comandada com braços de ferro por Snape, o que restou da Ordem da Fênix
encontra-se frágil. E Harry, Rony e Hermione continuam em busca das Horcruxes
que faltam, sem saber quais são e nem onde estão.
A trama não perde tempo algum em explicar o que aconteceu
antes, o que são as Horcruxes, nem nada. O longa é claramente para os fãs dos
livros e para quem assistiu a todos os filmes. Uma pessoa que saltar de
paraquedas nessa conclusão irá se sentir muito confusa, com toda a razão. É
necessário, não um grande, mas um bom background para poder entender o que se
passa em tela.
O clima do filme é tenso desde o começo, quando, antes mesmo
de qualquer logo ou aviso, nos deparamos com um Voldemort encontrando algo que
procurava. Esse pequeno começo já nos lembra de que nada ali é calmo e nenhum
momento será seguro. Voldemort surge e a tensão e sensação de urgência e perigo
junto com ele. A fotografia do filme é bem escura e sombria, algo que ressalta
ainda mais o ambiente que o mundo mágico se encontra e aumenta ainda mais a
sensação de perigo. Tanto é, que nem mesmo Hogwarts, algo tão mágico e
aconchegante nos primeiros filmes, se mostra algo muito mais aterrorizador, com
Snape como um líder condizente de uma época negra, comandando o colégio de uma
forma quase que fascista.
Se a primeira parte não tinha nenhuma ação, sendo quase que
um filme introspectivo, a segunda parte vai por um caminho totalmente oposto. A
ação predomina a trama, do início ao fim. Tal fato de ter um caminho mais reto
e direto favorece as cenas de ação, não há tempo para descansar. Uma cena de
fuga é seguida por outra de duelo, que é seguida por outra fuga que é seguida
por outra cena de ação. Isso apenas reforça a guerra que está acontecendo. E na
guerra, não há tempo para descansar.
Se por um lado essa ação contínua é boa, por outro lado
enfraquece a trama. Ao optar por algo direto, diversas mortes e momentos que
mereciam uma maior atenção são ignoradas. Não que sejam deixadas de lado, mas é
tudo tão atribulado que o que merecia um destaque maior para causar um impacto
ainda maior (como no caso da Belatriz), é apenas jogada em tela e esquecida
logo depois para a continuidade da aventura. Tal opção do diretor não estraga
nem torna menor a experiência, mas deveria ter tido um maior apreço pelos
momentos que pediam por uma carga dramática maior do que mostrada.
A trilha sonora foi composta por Alexandre Desplat e é
soberba. Normalmente, nesse tipo de filme, um grande épico com uma guerra
grandiosa, seria previsível ouvir algo que demonstrasse tal fator épico.
Desplat vai justamente contra a maré nesse ponto. A trilha dele é em sua maior
parte triste e melancólica, que demonstra que aquela guerra não é motivo de
prazer, mas sim de tristeza pela destruição e morte que ela trás. Tão bem
feitas, tais trilhas engrandecem ainda mais o tom de despedida, sendo comovente
no ponto certo e que complementa as reações dos personagens e de quem assiste.
Todo o elenco se encontra em perfeita harmonia. As breves
aparições de Gary Oldman, Jim Broadbent, Emma Thompson e outros são bem construídas
e que serão lembradas. Eles surgem por algum motivo, não estão no filme apenas
para fazerem uma ponta. Até mesmo Michael Gambon aparece numa cena memorável no
livro e agora, no filme. Alan Rickman se mostra, ainda assim, um dos melhores
em cena. Snape e sua dualidade ganham contornos ainda maiores quando se revela
sua verdadeira história e a tristeza que transparece a tela ao perder alguém querido.
Daniel Radcliffe continua sendo o mesmo Harry, mas isso não compromete sua
atuação. Emma Watson se mostra mais amadurecida e contida em cena, ao passo de
que Rupert Grint entrega um Rony amadurecido e decidido.
Por ser o final de uma série que, para quem assistiu desde o
começo, se mostra algo muito mais dramático do que realmente parece. É um filme
repleto de aventura, mas os momentos em que aparece algo mais sério tocam tão
profundamente os fãs que acompanharam que resistir às lágrimas se mostra uma
tarefa trabalhosa. O epílogo então é de cortar corações. É uma despedida
alegre, mas ao mesmo tempo triste para aqueles que embarcaram junto nessa
magia. E vejam só a coragem do diretor em terminar focando os personagens e não
em fazer um plano aéreo passando pelos locais que marcaram na última década.
Após dez anos, oito filmes e quatro diretores, uma das
maiores sagas do cinema se encerra. De um mundo alegre e aconchegante até um
local que se torna hostil, sem cores e extremamente cruel, os filmes evoluíram
e amadureceram. As Relíquias da Morte – Parte 2 completa um ciclo que durou uma
década e envolveu milhões de pessoas. Entre acertos e erros, o último filme
encerra com chave de ouro um mundo do qual muitos sentirão saudades. E eu me
incluo nesse grupo.
Em tempo: ignore as cópias em 3D. Convertidas do 2D, em nada
acrescentam a trama e podem muito bem ser descartada.
“Until the
end.”
Harry
Potter and the Deatlhy Hallows: Part 2, Aventura, Fantasia, EUA/Reino Unido
2011. Direção: David Yates. Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma
Watson, Ralph Fiennes, Michael Gambon, Alan Rickman, Matthew Lewis, Evanna
Lynch, Helena Bonham Carter, Bonnie Wright, Maggie Smith, Jim Broadbent, David
Thewlis, Julie Walters, Mark Williams, James Phelps, Oliver Phelps, Natalia Tena,
Emma Thompson, Jason Isaacs, Helen McCrory, Tom Felton, Warwick Davis, Domhnall
Gleeson, Clémence Poésy, John Hurt, Geraldine Somerville, Adrian Rawlins,
Robbie Coltrane, Gary Oldman, Chris Rankin, David Bradley, Kelly Macdonald,
Ciarán Hinds, Hebe Beardsall, Devon Murray, Jassie Cave, Afshan Azad, Anna
Shaffer, Georgina Leonidas, Freddie Stroma, Alfie Enoch, Katie Leung, Scarlett
Byrne, Miriam Margolyes, Gemma Jones.